quarta-feira, setembro 28, 2011

A brasileiríssima feijoada



O prato faz sucesso no calor ou no frio, só não pode faltar caipirinha e couve refogada. Confira receitas e dicas de preparo

Júnior Milério, especial para o iG São Paulo 28/09/2011 09:00

Foto: Divulgação
No restaurante Bolinha, em São Paulo, é possível comer feijoada todos os dias
Não se sabe ao certo qual a origem da feijoada. Há quem diga que o prato é variação de uma receita milenar, que também teria inspirado o cozido português, a casoeula italiana e o cassoulet francês. Mas a hipótese mais difundida é que ela tenha surgido, no Brasil, durante o período escravocrata. "Nessa época, os senhores não comiam as partes menos nobres do porco, que ficavam para os escravos”, diz o chef André Otero, do Instituto Gastronômico (IGA), rede de capacitação profissional. Segundo ele, os negros cozinhavam as carnes numa panela com feijão, água, sal e pimentas.
Leia mais sobre a história da feijoada

Com o tempo, o preparo do prato se transformou (praticamente) num ritual. Francisco Monteiro Costa, o Chico, chef do Veloso, em São Paulo, conta que começa a fazer a feijoada, servida aos sábados, na quarta-feira. A receita é um sucesso. "Antes de abrir a casa, já tem filas de até 100 pessoas na porta do bar”, diz. O segredo do caldo cremoso? Simples. “É só incluir orelha de porco ao caldeirão.”
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Na maioria dos restaurantes paulistanos é possível apreciar a receita duas vezes por semana: às quartas e sábados. No Bolinha, tem feijoada todos os dias. O restaurante, que existe desde 1946, começou a oferecer o prato diariamente em 1976. "Em dias quentes, servimos cerca de 250 pessoas. Se o tempo esfria, chegamos aos 700 clientes", afirma José Mário Ribeiro Souza, o Maurinho. 

O chef não tem medo de revelar os segredos de sua receita. “Mesmo porque a mão do cozinheiro é o que fará a diferença no resultado final.” Assim, divide algumas dicas importantes. "Como cada carne tem um tempo de preparo, elas devem ser cozidas em panelas separadas”, diz. O cozimento, porém, deve ser finalizado junto a porções de feijão, que serão unidas no final. “É isso que vai dar gosto.”
Chico assina embaixo e acrescenta: "durante o dessalgue, é importante colocar gelo na água”. Segundo ele, as pedrinhas criam uma camada de proteção na carne, que a mantém (mais) hidratada. O chef sugere deixá-las de molho durante 12 horas, período em que água e gelo devem ser trocados pelo menos seis vezes. “Em casa, dá para fazer esse processo na metade do tempo, contanto que a troca de líquido seja mais frequente”, afirma. 

Mas atenção: mesmo dessalgadas, as carnes é o que vão temperar a receita. Assim, nada de botar sal na panela. “Esse é o último ingrediente a ser acrescentado”, diz Maurinho.
Acompanhamentos
Feijoada sem caipirinha é como goiabada sem queijo. “Cinco em cada 10 clientes também pedem caipirinha", diz Maurinho. Para ele, é fácil identificar um estrangeiro no salão. "Se tem vinho e feijoada na mesa, tem gringo no restaurante", diz.
Clique aqui e aprenda a fazer a caipirinha nota dez

Couve refogada e laranja para aplacar a acidez também são fundamentais. Assim como a quantidade de temperos. “Para cada medida de alho, duas de cebola”, afirma Maurinho.
Foto: Divulgação
Sal é o último ingrediente a entrar na panela
Feijoada, gringo e samba no pé 
Há nove anos, a escola de samba Vai-Vai, campeã paulista do carnaval 2011, serve feijoada em sua quadra, todos os sábados, para cerca de 300 pessoas. O prato é preparado por Rosineide Monteiro Nunes, a Baiana. "Ela está na escola há 41 anos, e o cardápio da feijoada é o famoso completo: com farofa, couve, bisteca, laranja e caipirinha", afirma Niltes Lopes, diretora executiva da Vai-Vai. 

O programa é um sucesso. "Nossa feijoada com samba é um momento de entretenimento para famílias e amigos comemorarem desde aniversário até amigo-secreto", diz Niltes. “E também é uma maneira de compartilhar a nossa cultura, já que recebemos muitos estrangeiros.”
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É fato que o trio samba, a caipirinha e a feijoada encantam muita gente ao redor do mundo. Que o diga Paulo Rafael Cardoso. O chef trabalhou por um ano em um restaurante na Austrália que servia feijoada. Ele conta que a primeira impressão do prato não era das melhores. "Mas assim que experimentavam a receita brasileira, os australianos imediatamente viravam fãs", diz. “E sempre repetiam.”

segunda-feira, setembro 19, 2011

Aprenda a fazer a caipirinha nota dez


Foto: Divulgação/Filico
Na caipirinha, cada fruta tem uma bebida e temperos indicados*
A receita é simples: 50 mililitros de cachaça, duas colheres de sobremesa de açúcar, um limão espremido e gelo. São poucos ingredientes, mas muitas as chances de errar. Acredite, fazer boas caipirinhas é arte. Além de um bom teste para descobrir se o barman é gabaritado. Para acertar a mão em casa, e aproveitar todo o potencial do drinque cem por cento nacional, o iG Comidarespondeu as 12 questões mais importantes no preparo do coquetel.
1 – Que limão devo usar?Pode parecer preciosismo, mas basta lembrar que o limão corresponde a um terço dos ingredientes da caipirinha para entender sua importância na receita. O mais usado é o limão Tahiti. Um exemplar médio, com bastante sumo, é o ideal. Para escolher, uma dica: limões com casca mais lisa costumam ter mais suco. Evite os que tiverem a casca mole: a fruta pode estar passada.
2 – Tirar a casca do limão evita o amargor?Há muitas teorias sobre a relação do amargor – defeito presente em nove de cada dez péssimas caipirinhas - e o limão. Segundo Gerson Bendzius, mixologista da empresa de consultoria em bares Drink Design, não é preciso tirar a casca, mas o miolo branco da fruta (columela) deve ser descartado.

3- Devo cortar o limão em rodelas ou gomos? 
Para conseguir tirar a parte branca do limão, é preciso cortar a fruta no sentido do ponto onde se prende o caule (diferente de como costumamos cortar laranjas para fazer suco). Depois, corta-se novamente pela metade. Assim, a parte branca fica na extremidade e é mais fácil retirá-la. Alguns bartenders, como o famoso Souza, do bar paulistano Veloso, preferem a fruta em rodelas. “Corto as bandas do limão e faço um talho de cada lado para tirar o miolo branco. Depois, fatio em rodelas fininhas”, ensina.
4 – O certo é fazer direto no copo ou bater na coqueteleira?“Quando a caipirinha é de limão, prefira sempre fazer direto no copo”, diz Gerson. Ele indica colocar as quatro bandas da fruta no fundo do copo com a polpa virada para cima (assim, você evita macerar a casca e liberar o amargor). O próximo passo é colocar o açúcar em cima e amassar o suficiente para a fruta liberar seu sumo. Mas atenção: macerar demais vai amargar a bebida, mesmo com todos os cuidados anteriores.

Se a caipirinha levar outras frutas, como maracujá e frutas vermelhas, a coqueteleira pode ser usada. O resultado costuma ser mais leve e refrescante.
5 – Que tipo de copo devo usar? 
“Antigamente só se usava o ‘old fashioned’ (copo baixo reto). Agora, todo mundo passou a usar o princesa (baixo, em formato de “V”), que eu acho perfeito para a quantidade de ingredientes da caipirinha”, afirma Souza. Se for usar copos longos, a sugestão do batender é aumentar a receita.
Foto: Getty ImagesAmpliar
Exceto a de limão, caipirinhas ficam mais refrescantes se preparadas na coqueteleira
6 – Melhor com açúcar ou xarope de açúcar? 
Ambos podem ser usados, dependem mais do gosto do bebedor. 

Os mais tradicionalistas não abrem mão do açúcar e gostam de sentir o drinque em etapas (mais e menos doce, conforme o açúcar vai se misturando à bebida).
Já os fãs das caipirinhas mais homogêneas, preferem o xarope, que não deixa resíduos de açúcar no fundo do copo. Fazer o xarope é muito fácil: leve ao fogo em uma panela 2 partes de açúcar para uma de água. Misture até virar uma calda transparente. Coloque em um frasco ou bisnaga e deixe na geladeira (na hora de substituir o açúcar, coloque 4 colher de chá no preparo na bebida).
Em ambos os casos, convém não exagerar na dose: caipirinhas doces demais são tão intragáveis quanto as amargas.
7 – Estou de regime. Posso tomar caipirinha com adoçante?Pode, mas vai ser uma economia pequena perto das 150 calorias de uma dose de cachaça ou de vodca. Se ainda achar que vale a pena, Souza indica usar três sachês de adoçante em pó em cada caipirinha de limão; dois para drinques de tangerina ou kiwi; e um só para frutas mais meladas, como manga.
8 – Que tipo de gelo usar? Inteiro ou quebradinho?“Gelo em cubos, sempre feito com água filtrada, e alguns quebrados para ficar mais refrescante”, diz Gerson. Depois de macerar o limão com o açúcar (ou o xarope, ou o adoçante), encha o copo com as pedras e coloque um pouco do quebrado por cima. Só depois adicione a bebida alcoólica escolhida.
9 – Existe cachaça certa para fazer caipirinha?
Não, mas é (sempre) mais indicado usar produtos de qualidade. Bobagem achar que a cachaça artesanal mineira, que você guarda no bar de casa, não pode ser usada para o drinque. “Quanto melhor o destilado, melhor a caipirinha”, afirma Gerson.
10 – Para cada tipo de bebida usada devo usar uma fruta?
As bebidas mais usadas para fazer caipirinha – cachaça, vodca e saquê – têm características muito diferentes. Então, é natural pensar que existem frutas que vão melhor com cada uma delas. Gerson sugere as seguintes combinações:
Cachaça – com frutas cítricas, como limão (1 unidade), limão-siciliano (1/2 unidade), lima-da-pérsia (½ unidade) e frutas brasileiras, como jabuticaba (15 unidades).
Saquê – com frutas mais delicadas, como uva verde (8 unidades grandes), morango (7 unidades) e kiwi (1 unidade). Não use frutas cítricas nem ácidas. 
Vodca – é a mais versátil e combina com quase tudo, exceto frutas muito cremosas, como banana e mamão.
11 - Posso turbinar minha receita com ervas e especiarias?
Sim, as receitas mais complexas estão bem em alta. Mas algumas combinações são mais bem-sucedidas do que outras. Prefira misturar hortelã com frutas cítricas ou ácidas e pimenta com as mais doces (maracujá, caju, carambola). Tenha parcimônia na hora de adicionar ervas muito aromáticas ao preparo, como manjericão e alecrim, que podem deixar o drinque intenso demais.

12 – Vou receber um grupo grande de amigos. Dá para fazer caipirinha na jarra?Nunca vai ficar igual. “Se quiser fazer dessa forma, o melhor é bater na coqueteleira, ir jogando na jarra e completar com gelo”, diz Souza. Mas o bartender prefere enfileirar os copos, cortar todas as frutas e fazer várias caipirinhas de uma vez só. “Assim, todo mundo brinda junto e o resultado é muito melhor!”