quinta-feira, junho 10, 2010

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segunda-feira, junho 07, 2010

Uma semana na Toscana, por Alessandra Blanco

Uma semana na Toscana

Alessandra Blanco (http://colunistas.ig.com.br/comidinhas/2010/06/07/uma-semana-na-toscana/)

Duas semanas e dois destinos: Itália e Turquia. Saí de São Paulo no dia 15 de maio para passar uma semana em uma vila na Toscana e uma semana em Istambul. Férias e uma ótima desculpa para poder literalmente me jogar em duas cozinhas completamente diferentes.
Chego a Roma no domingo e dirijo quase duas horas até Pienza, cidadezinha medieval, próxima de Montalcino, a terra dos vinhos Brunello, onde vou ficar hospedada em uma casa, nas montanhas próximas, alugada pela família de uma amiga. Combinamos de nos encontrar na cidade para uma rápida parada de reconhecimento e, claro, uma tacinha de vinho, antes de seguir para a “nossa casa”.
La Bandita é uma daquelas enormes casas de pedra que você deve estar vendo na novela da Globo. Foi totalmente reformada por um casal de americanos e transformada em um hotel com seis quartos e atendimento de luxo (que inclui um chef de cozinha com estrela Michelin). Você pode reservar apenas um quarto e dividir sua estadia com outras pessoas ou reservar a casa toda, como fez a família que me convidou.

Somos recebidas com uma degustação de vinhos Brunello. Descobrimos o Sesti, um produtor bastante artesanal e tradicional, que faz vinhos biodinâmicos, com uma produção bem pequena. Imediatamente nos apaixonamos por ele e vai acompanhar a refeição da noite inteira.
Durante a degustação, temos uma mesa com os queijos da região _ o pecorino de Pienza é famosíssimo e delicioso em diferentes versões fresco ou curado _, a “salumeria” local (presuntos, salames e etc) e um melão divino.
Depois, vem o jantar. David Mangan o nosso chef de cozinha inglês, prepara um menu bem toscano. Começamos com um espetinho de frango, servido com uma saladinha de rúcula. Em seguida, um nhoque com ragu de carne. E o prato principal é a famosa bisteca Fiorentina, gigante, quanto maior melhor, feita na grelha, servida torradinha por fora e bem vermelha por dentro, junto com legumes. Como sobremesa, uma panacota de frutas vermelhas.

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Termino o jantar exausta e vou dormir. A programação da semana será intensa, com visitas a Pienza, Montalcino, Montepulciano, Siena, Firenze, vinícolas, restaurantes….
Acordo no dia seguinte com o barulho das ovelhas e seus sininhos. Coloco meu tênis e saio para caminhar pelas montanhas. Já viu “Sob o Sol da Toscana”? O cenário é exatamente aquele.

A casa fica no alto e tem visão ampla, gigante, para montes forrados de macelas, aquela florzinha amarela linda, ótima para fazer chá. Além, é claro, de vinhedos e oliveiras. Quando você passa por elas, sente o perfume de azeitonas no ar. Me animo tanto que ando por uma hora e meia, subidas e descidas, e vou repetir isso todos os dias por lá. Para depois chegar de volta a La Bandita e encontrar um belíssimo café da manhã, com iogurte fresco caseiro, feito com leite das ovelhas, mel espesso da região, frutas vermelhas… Tão bom que nem olho para os pães.
Quando me dou conta, estou há uma hora ali sentada. Só dá tempo para um capuccino, um banho e seguimos para o primeiro “compromisso”: uma passagem por Montalcino e um almoço em Sant´Angelo in Colle, cidadezinha próxima que deve ter no máximo umas 20 casas, o que inclui, é claro, um belo restaurante e uma ótima enoteca.
Estamos em dez pessoas. Sentamos e pedimos ao garçom que traga um pouco de tudo o que a casa oferece de típico do local. Ele nos sugere alguns antepastos e fazer um prato com três variedades de massa.

Começa a chegar então berinjela parmigiana, bruschetas de tomate fresco, abobrinha empanada, uma salada de fava fresca e pecorino absolutamente divina e o crostoni de lardo. Já tinha muito ouvido falar dele, mas ainda não tinha provado. São fatias finíssimas, da parte mais gorda da barriga do porco, curada e temperada, levemente apimentada. Falando assim, parece pesado e gorduroso, mas não é. Trata-se de uma iguaria, trabalhosa e que muito pouca gente sabe fazer bem e não há melhor lugar para prová-la do que a Toscana. É saborosa e elegante. Provei também uma versão servida com mel. A combinação fica perfeita.

Em seguida, recebemos nossos pratos com massas: um ravióli bem delicado recheado com espinafre e ricota e feito na manteiga e sálvia; um papardelli com ragu de carne; e um casarecce com molho de tomate, pecorino e favas. Adoro cada vez mais essa combinação! Os pratos custam no máximo 10 euros.
Pulamos a sobremesa, pedimos um café (que vem bem curto, bem italiano) e partimos.
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Vamas para a “Azienda Agricola Cerbaiona”, conhecer Dora e Diego Molinari. Ela ex-aeromoça, ele ex-piloto. Ambos largaram tudo para ser um dos primeiros produtores de Brunello em Montalcino ainda no início dos anos 80, quando quase não havia ninguém por lá. Nora conta que Diego costumava visitar muito um amigo, dono de restaurante, todas as vezes que tinha escala em Paris. Lá conheceu os vinhos Barollo e caiu de amores.
Achou que era hora de se aposentar e tentar produzir seus próprios vinhos. Mudaram-se de Roma para Montalcino, para uma casa que data de 1500, e foram plantar uvas sangiovese e oliveiras. No primeiro ano, graças a uma forte chuva de granizo, perderam tudo. Mas dois anos depois tiveram uma safra estupenda e decidiram ficar. Em 2001, seu Brunello foi considerado o “melhor vinho tinto da Itália”. Provei lá o 2005. E foi o melhor Brunello que já experimentei. Saio da vinícola com duas garrafas. Diego diz que o ideal é guardá-las mais uns dois ou três anos, quando estarão no seu auge. Tomara que eu consiga esperar até lá…
Nos despedimos e vamos para casa, tomar um banho e nos preparar para o jantar…
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Chove muito à noite e chegamos atrasados ao Il Rossellino, micro restaurante, com espaço para 18 pessoas, considerado o melhor de Pienza. Franca e Enzo Mariani nos olham de cara feia. Depois descobrimos que estavam de mau humor porque quatro americanos haviam feito reserva e não apareceram. E eles haviam dispensados amigos e clientes fieis para esperar os “furões”.  O casal faz tudo na casa, de preparar os pratos a servir a mesa (e ela sempre serve os homens primeiro, típica mamma italiana).
O mau humor dura até a primeira gracinha que Bernardo, o bebê de um ano e meio na mesa, faz para dona Franca e ela se derrete. Já viramos melhores amigos. Peço um minestrone de legumes, que vem com um grão integral, que parece arroz, mas não é exatamente, e um coelho recheado com trufas. Bons, mas fico completamente com inveja dos outros pratos pedidos na mesa. A berinjela parmigiana como entrada e o ravióli recheado com ricota e servido com trufas negras são, sem dúvida, as melhores escolhas. Tanto que parte da turma volta ao restaurante em outro dia da viagem só para comê-los de novo. Dou uma garfadinha em cada. São incríveis.
Antes de ir embora, Enzo nos traz a torta de laranja que dona Franca havia preparado algumas horas antes. É uma massa de bolo leve, recheada com um creme de laranja, bem perfumado. Perfeito com o cálice de Vin Santo.
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Final do primeiro dia….
Na terça-feira, vamos até Siena. O caminho entre as duas cidades é lindíssimo, entre curvas pelas montanhas. Chegamos exatamente na hora marcada para o almoço. O restaurante escolhido, o Tre Cristi, é de 1830 e especializado em peixes e frutos do mar. Bastante diferente. Entre os pratos, quase nada de massas ou molhos, mas uma diversão de crudos: tartar de peixes, lulas, lagostins. Absolutamente frescos. Boa parte crus, outra com o mínimo de cozimento necessário.

 Um dos pratos é apresentado como uma “falsa pizza”: mussarela de búfala líquida por baixo, lagostins e lulas com mínimo de cozimento por cima, na textura perfeita, e um molhinho verde de ervas. Meu favorito é a berinjela servida com uma lula crocante empanada no pão. Para encerrar, um creme brulée servido com sorbet de maçã, pêra, melão e laranja e uma tacinha de passito da Sicília. Na foto, com a moto ao fundo, é a típica dolce vita italiana.

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Após o almoço ainda passamos a tarde perambulando por Siena e parando para um café, um sorvete, um Spritz (o drink com Aperol e prosecco). Vamos até o Duomo ouvir o bater de sinos das seis horas que chama os fiéis para a missa. Pegamos o pôr-do-sol pelo caminho de volta. Quando chegamos em casa, uma mesa com queijos, saladas e embutidos nos espera. Ai, ai….
No dia seguinte, precisamos de uma pausa. Chove o dia todo e ninguém agüenta tanta comida. Pulamos o almoço e decidimos jantar em um restaurante escondidinho, em Montefollonico, o La Chiusa. É hotel e restaurante, mas difícil é chegar lá entre tantas curvas e o breu da estrada. Claro que o esforço é recompensado. Dania, a proprietária, decora todos os pratos com sua assinatura em molhos verdes e vermelhos. E merece mesmo. Porque sua comida, caseira, rústica, é genial.
Faz muito frio. Então, partimos logo para as sopas. Escolho uma de feijão com aquele mesmo grão integral que lembra um arroz, mas não é… E provo também a de lentilha e a de grão de bico. Todas muito boas.
Uma fiori di zucca, flor de abobrinha recheada com ricota de búfala e coberta  com molho de tomate, é servida também como entrada. E é talvez uma das melhores coisas que provei nesta viagem. Fico pensando por que a minha não fica assim…

 Deixo de lado as carnes (embora tenham sido muito elogiadas na mesa, e a bisteca Fiorentina daqui ter sido considerada “a” melhor) e parto para duas massas:  raviólis recheados com ricota e servidos na manteiga e um nhoque ao ragu de carne. Rústicos e delicados. Perfeitos.

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Uma caminhada no frio para conhecer o hotel e sua incrível vista para Montepulciano ajuda a fazer a digestão. Precisamos nos preparar para o dia seguinte. Vamos a Firenze (Florença) almoçar na Enoteca Pinchiorri, o três estrelas Michellin mais famoso da Itália.
 Enoteca Pinchiorri
Chegamos cedo a Firenze. Tempo para dar uma volta pela cidade, ver a estátua de David em uma das praças mais lindas do mundo, tomar um Spritz para abrir o apetite, ver o Duomo…
Temos uma mesa com 12 pessoas na Enoteca. O restaurante é conhecido também por ter um serviço impecável. E realmente tenho o tempo todo a sensação de que há mais de um garçom por pessoa da mesa. Você nem tem tempo de pensar no que precisa. Eles já sabem antes e trazem até você. Vêm em fila com os pratos cobertos por cúpulas de prata. Colocam-os sobre a mesa e tiram a cúpula todos juntos, sincronizados. Batemos palmas quando isso acontece, é inevitável.
Quando chego, taças de champanhe já circulam pela mesa, Bollinger, a minha favorita. E pequenos amuse bouche: vieira grelhada com uma salsa verde e polentinha frita e passada em ervas. Acho engraçado. A polenta frita me lembrou a do restaurante Demarchi, em São Bernardo do Campo. O mais elegante, premiado e caro restaurante da Itália e o mais popular restaurante italiano paulista servem a mesma entradinha…
Escolho como entrada um ovo mollet empanado, servido com cogumelos morrilles e faço inveja ao restante da mesa que fica toda de olho no meu prato. A ideia é incrível, mas o resultado não tão bom quanto eu esperava. A gema está mais dura do que deveria. Fico um pouco decepcionada. Acho o ovo mollet do Cosí, em São Paulo, melhor. Se fosse acompanhado dos morrilles, então, seria perfeito.

Essa sensação de desapontamento, infelizmente, acompanha todo o almoço. Meu prato principal é uma massa caseira com lagostins e um molho verde de favas e ervas, que está apenas OK. Foram pedidos também filés, carne de porco, peixe. Mas a sensação geral foi a mesma. A jantar da noite anterior ou o do Rossellino, por exemplo, tinham sido  melhores e com preço sete vezes menor…
Pela primeira vez desde que cheguei, escolho uma sobremesa: baba com frutas vermelhas e uma mousse de chocolate branco. Gostoso. Recebemos também duas tacinhas com suco de laranja e duas bolinhas: uma de panacota a outra com geléia. Teve ainda uma mousse de frutas vermelhas para limpar o paladar, queijos e chocolates sortidos. Pulei os dois últimos. Um almoço como esse acompanhado de champanhe e garrafas de Brunello não sai por menos de 350 euros por pessoa!
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Saímos do restaurante e vamos aproveitar a cidade até anoitecer. Finalmente está sol e faz calor. O final de tarde dourado da Toscana com as pessoas todas na rua para um drink antes do jantar é das melhores coisas da vida…
Sexta-feira e último dia na Itália. Acordo cedo e faço minha última caminhada nas montanhas entre as ovelhas. Aproveito o iogurte fresco e o mel no último café da manhã. Hoje vamos almoçar em Montecchiello, outra micro cidade da região, com umas 50 casas lindinhas de pedra e flores vermelhas na sacada. A cidade é super alta e tem uma visão panorâmica incrível.
Vamos almoçar no La Porta, outro restaurante com recomendação local, único na cidadezinha. Está sol e ficamos na varanda com vista para o vale. E começamos nossa melhor refeição na Toscana. A entrada é um suflê de alcachofras com trufas negras de dar água nos olhos de tão bom. Meu prato é um picci com ragu de coelho ao vinho branco. E provo também uma outra massa com ragu de carne. As duas tão rústicas quanto saborosas, perfeitos exemplos da comida da região. Simples, leve, barato, saboroso…

Uma bisteca Fiorentina também circula pela mesa, mas apenas provo, porque não quero tirar da boca o gosto das duas massas.
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Vamos embora passear em Montepulciano, linda cidade medieval numa colina, com cheiro de vinho e embutidos. Às 20h estamos de volta a La Bandita para a famosa despedida promovida pela equipe para todos os seus hóspedes: a noite da pizza. O chef David e todos os funcionários colocam a mão na massa e do forno à lenha vão saindo pizzas margheritta, de berinjela, peperoni, quatro queijos…. Totalmente napolitanas, nesse caso. Faz muito frio e o céu está assustadoramente estrelado, os Brunellos animam e a turma vai fazer fogueira do lado de fora. Se sobrou alguma pizza pronta às 23h quando terminou o jantar, até 3h tudo já havia sido “esquentado” na fogueira e consumido. Às 5h, partimos para Istambul….
La Bandita: info@la-bandita.com
Il Leccio: Costa Catellare, 1/3, Sant´Angello in Colle, Montalcino. Tel. 0577-844175
Azienda Agricola Cerbaiona: 53024 Montalcino. Tel. 0577-848660.
Il Rossellino: Piazza di Spagna, 4, Pienza. Tel. 0578-749064.
Tre Cristi: Vicolo di Provenzano, 1/7, Siena. Tel. 0577-280608.
La Chiusa: via Della Madoninna, 88, Montefollonico. Tel. 0577-669668.
Enoteca Pinchiorri: via Ghibellina, 87, Firenze. Tel. +39 055 242757.
La Porta: via Del Piano, 3, Montechiello, tel. 0578-755163.
Autor: Alessandra Blanco (http://colunistas.ig.com.br/comidinhas/2010/06/07/uma-semana-na-toscana/)
Fonte: http://colunistas.ig.com.br/comidinhas/2010/06/07/uma-semana-na-toscana/
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