sexta-feira, fevereiro 04, 2011

한국 씨 킹슬리의 땅에있다


한국 씨 킹슬리의 땅에있다


Tem coreano na terra do Nhô Quim

Megainvestimento da Hyundai cria um inédito feudo da Coreia do Sul nos domínios do sotaque caipira – e do XV de Piracicaba

메가 투자 국가 악센트 분야에서 한국 전례 싸웠던 현대 생성 - 그리고 XV Piracicaba





Patrick Cruz, de Piracicaba (SP) | 04/02/2011 05:50

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"Se é difícil? Parece grego em braile!", diz Daniela Madrid da Silva, funcionária da única escola bilíngue de Piracicaba, a 160km de São Paulo. Nada soa mais inóspito quanto grego em braile, mas a integração sempre é possível: em nome de um investimento bilionário da montadora Hyundai na cidade, Piracicaba dá um jeito no erre acentuado de seu sotaque caipira para receber as primeiras levas de coreanos que chegam à cidade.
Não havia colônia coreana no município em 2008, quando a empresa decidiu que ficaria em Piracicaba sua primeira fábrica sul-americana. Hoje, empreendedores já montam restaurantes, hotel e pacotes turísticos desenhados para agradar aos recém-chegados. Longe de casa, mas com o espírito em paz, os coreanos-piracicabanos já têm também à disposição uma Igreja Metodista Coreana Missionária do Brasil para chamar de sua.

Foto: Guilherme Lara Campos/FotoarenaAmpliar
A ponte entre Coreia do Sul e Piracicaba
Em 2010, quando as primeiras máquinas começaram a roncar no terreno que receberá a montadora, Piracicaba passou também a receber estudantes coreanos trazidos pela Hyundai, que mantém o programa de intercâmbio em todas as suas seis unidades fora da Coreia do Sul. Eles ficam na cidade por até cinco dias para sessões-relâmpago de trabalhos voluntários em instituições assistenciais – e, no caso de Piracicaba, ajudam também a criar identificação da cidade com a montadora recém-chegada.
Oh Jong Seok fazia parte da leva mais recente dos estudantes trazidos a Piracicaba pela companhia – eram 60 os estudantes, que chegaram à cidade na última quinta-feira e partiram cinco dias depois. No momento em que participava de uma atividade da missão coreana na Associação Guarda Mirim Municipal, fazia apenas 12 horas que tinha chegado ao Brasil. Tempo para se admirar com a natureza e o jeito amigável de seus interlocutores. “No aeroporto, as pessoas nem me conheciam e já sorriam”, diz ele, estudante de engenharia eletrônica.
Guilherme Delfino da Silva, de 16 anos, também tinha tido pouco tempo para fazer qualquer julgamento sobre os coreanos, que naquele dia, na Associação Guarda Mirim, participavam de sua aula de informática. “Deu pra ver que eles são animados”, diz Silva, quando atrás dele levanta-se um estudante coreano, que se contorce em espasmos arrítmicos, mão direita na barriga, mão esquerda para o alto. “Vú-cê sám-ba?”, pergunta o coreano a uma das brasileiras da sala de aula.
Letra de pauzinho não é japonês
O grupo de 60 estudantes da visita de cinco dias a Piracicaba não enfrentou o que enfrentam os que chegaram para ficar na cidade de forma definitiva. No Colégio Piracicabano, são cinco os coreanos matriculados, todos filhos de profissionais que rumaram ao município para a fase das obras da fábrica – ou, em alguns casos, atraídos pelas possibilidades de negócios que a colônia em gestação promete para o futuro.

Foto: Guilherme Lara Campos/Fotoarena
Detalhe do uniforme usado pelos estudantes coreanos na visita à Associação Guarda Civil Municipal de Piracicaba
É no Piracicabano que trabalha Daniela Madrid da Silva, para quem o idioma coreano é tão difícil quanto grego em braile. Ela foi uma das interessadas nas aulas de coreano que começaram a ser ministradas no colégio em 2010. Espera aprender algo para poder bem receber os pais dos alunos coreanos que chegarão à cidade em maior número quando a fábrica estiver perto de entrar em operação. Daniela confessa saber quase nada da língua, mas já consegue diferenciar o alfabeto coreano de outras escritas asiáticas. “Antes, para mim, tudo que tinha esses pauzinhos era japonês”, diz. “Agora já dá para diferenciar as letras na loja de importados”.
As aulas do curso de coreano são ministradas nas manhãs de sábado por Luiz Lee, coreano que está há 30 anos no Brasil, mas apenas há três meses em Piracicaba. Lee foi um dos tantos coreanos que moram em São Paulo que foram atraídos à cidade do sotaque caipira por excelência com o investimento da Hyundai. As aulas que comanda são apenas parte de seu processo de integração com a comunidade: Lee gerencia um dos dois restaurantes coreanos que hoje funcionam na cidade (o terceiro já está em obras) e investe na reforma do prédio que se transformará no primeiro hotel do município que tem os coreanos como público-alvo. “Korea House” é seu provisório nome de batismo.
Sobre a chance de fazer a vida na terra adotada pela Hyundai, Lee diz ser “possibilidade para gente”, com nenhum vestígio de sotaque paulistano, com o qual conviveu nas últimas três décadas – e, claro, sem evidência alguma do caipiracicabano. No restaurante que administra, com pratos típicos, à base de arroz, vegetais e pimenta, não há concessões para a cozinha local. Passa longe dali a pamonha.

Foto: Guilherme Lara Campos/FotoarenaAmpliar
O goleiro coreano Kim lamenta um dos gols do Nhô Quim
XV, falai por nós
Mais ativo que a pamonha na integração entre Coreia do Sul e Piracicaba foi outro ícone local, o Esporte Clube XV de Novembro. O XV de Piracicaba, quase centenário time da cidade, disputou um amistoso na última sexta-feira contra o Jeonbuk Hyundai, time que pertence à montadora. O jogo fazia parte da programação prevista para a comitiva da companhia na cidade.
Ao estádio Barão de Serra Negra confluíram todas as ações de aproximação entre asiáticos e piracicabanos. Representando a Coreia, estudantes apresentaram danças típicas com máscaras e roupas coloridas. Representando o Brasil, artistas como Rick (o da ex-dupla Rick e Renner) e Katinguelê cantaram usando playback. Para a convergência dos dois mundos, um espectador gritou da arquibancada a uma das jovens coreanas que deixava o gramado após seu número de dança: “vô te adicioná no orrrrkut da Corrrreia!” O torcedor ficou sem resposta.
O XV de Piracicaba jogou quase todo com reservas – afinal, dois dias depois, enfrentaria o Guarani para defender a liderança da série A2 do Campeonato Paulista, último degrau antes do cobiçado retorno do clube à elite do futebol estadual. Um torcedor de prenome Vidal estranha o pedido de prognóstico para a partida. “Vai dar XV. Por que vou achar que vai dar Coreia? Não sou coreano. É XV três a zero”.
Nhô Quim, o arquétipo de caipira que é também o mascote do XV, foi cortês com os visitantes. Depois de abrir vantagem de dois gols, o time da casa tomou dois. Acabou com empate por dois a dois o encontro entre o campeão coreano de 2009 e asiático de 2006 e o campeão brasileiro da série C de 1995. O XV ainda saiu na vantagem ao receber da Hyundai um cheque simbólico de R$ 50 mil pelas vendas de camisas promocionais do amistoso.
Vai nesse ritmo a transformação de Piracicaba, terra do caipirês e do XV, também na terra da Hyundai no Brasil.

Foto: Guilherme Lara Campos / Fotoarena
Vidal, o torcedor confiante: "Acho que vai dar XV. Não sou coreano"

fonte: iG