sexta-feira, maio 28, 2010

Novo de Roman Polanski tem estreia conturbada

Novo de Roman Polanski tem estreia conturbada

O Escritor Fantasma chega ao país e mostra que o cineasta continua em plena forma aos 77 anos

Augusto Gomes, iG São Paulo | (28/05/2010 12:27)

Foto: Divulgação
Pierce Brosnan e Ewan McGregor em cena do thriller O Escritor Fantasma
O novo filme de Roman Polanski, O Escritor Fantasma, chega ao Brasil nesta sexta-feira. A estreia acontece num dos momentos mais conturbados na já conturbada carreira do veterano cineasta. Ele está em prisão domiciliar na Suíça desde o início do ano, depois de ter sido detido em Zurique em setembro de 2009, a pedido da justiça americana. Polanski fugiu dos Estados Unidos na década de 70, para não ser preso por ter abusado sexualmente de uma garota de 13 anos. O diretor não pôde mais retornar ao país desde então, sob o risco de ir para a cadeia.

O Escritor Fantasma foi finalizado quando Polanski já estava detido. A filmagem já havia terminado, mas o longa ainda não estava montado. A solução encontrada foi colocar um mensageiro a disposição do cineasta na cidade turística de Gstaad, onde ele está detido. Ele levava instruções para o montador responsável pela edição final. Incrivelmente, o filme ficou pronto a tempo de participar do Festival de Berlim, em fevereiro deste ano. Polanski saiu de lá com o Urso de Prata de melhor diretor.
A estreia do filme no Brasil acontece poucas semanas de um novo escândalo envolvendo o cineasta. Trata-se de uma acusação de abuso sexual contra uma adolescente. A britânica Charlotte Lewis teria sido vítima de Polanski em 1982, durante as filmagens de Piratas. Na época, ela tinha 16 anos. "Eu também sou uma vítima de Roman Polanski. Ele abusou sexualmente de mim da pior maneira possível quando eu tinha apenas 16 anos, quatro anos depois de ele fugir dos Estados Unidos para evitar ser julgado por seus crimes", afirmou a atriz em um comunicado.

Foto: Getty Images
O cineasta Roman Polanski
A nova acusação é apenas mais um capítulo da conturbada novela que é a vida de Polanski. Filho de judeus poloneses, foi criado por uma família católica para escapar da perseguição nazista durante a Segunda Guerra Mundial (sua mãe morreu em Auschwitz e seu pai sobreviveu ao campo de concentração de Mauthausen-Gusen). Na adolescência, quase foi morto durante uma tentativa de assalto. O homem que o atacou, posteriormente, foi condenado à morte por outros crimes, incluindo três assassinatos. O incidente serviu de inspiração para o primeiro curta do cineasta, Rower.
A maior tragédia da vida de Polanski aconteceu em 1969. Num dos crimes mais chocantes do século 20, sua mulher, a atriz Sharon Tate (com quem ele trabalhou em A Dança dos Vampiros), foi morta a facadas por integrantes da seita liderada por Charles Mason. Ela estava grávida de oito meses. Em 1978, foi a vez da acusação de abuso sexual e a posterior fuga dos Estados Unidos. Desde então, ele vive em Paris. Lá, casou-se com a atriz Emmanuelle Seigner, estrela de seus filmes Busca Frenética e Lua de Fel.
Com uma história tão conturbada, não é de estranhar que Polanski muitas vezes seja mais conhecido por sua vida que por sua obra. O que é uma injustiça, pois trata-se de um dos maiores cineastas vivos. Poucos conseguem filmar o terror e a opressão como ele; sua "trilogia do apartamento" (Repulsa ao Sexo, O Bebê de Rosemary e O Inquilino) é uma obra-prima da claustrofobia. Tem ainda um talento raro para o humor negro, conseguindo extrair risos nervosos das situações mais desconfortáveis e absurdas, como em A Dança dos Vampiros e Armadilha do Destino.
É ainda um autor bastante versátil. Em seu meio século de carreira, foi das adaptações de Shakespeare (um violento Macbeth filmado após o assassinato de Sharon Tate) a despretensiosos filmes de aventura (Piratas, um clássico da "Sessão da Tarde"), passando por releituras dos filmes noir americanos dos anos 40 (Chinatown, uma de suas obras-primas) e flertes com o cinema mais convencional (O Pianista, história do extermínio dos judeus na Polônia, que lhe valeu o Oscar de melhor diretor em 2003).
Em O Escritor Fantasma, ele mostra que continua em plena forma aos 77 anos. Só isso já seria o suficiente para Polanski ser notícia.

fonte: iG, http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/novo+de+roman+polanski+tem+estreia+conturbada/n1237639039577.html