sexta-feira, abril 16, 2010

Uma atriz jovem e boca suja


15/04 - 18:03hs

Uma atriz jovem e boca suja
Chloe Grace Moretz, 13, solta palavrões cabeludos, destrói bandidos e causa polêmica em “Quebrando Tudo”
New York Times



Chloe Grace Moretz


A pequena atriz sonha em interpretar heroínas de ação, assim como a musa Angelina Jolie


Chloe Grace Moretz admite ter sentido uma pontada de inveja no verão de 2008, quando o filme de ação “Wanted” (“O Procurado”) estava prestes a ser lançado e o semblante austero da estrela Angelina Jolie parecia lhe encarar em cada outdoor de Los Angeles. Ela, então, disse as seguintes palavras para seus representantes em Hollywood: “Definitivamente, quero fazer um personagem do tipo Angelina Jolie – um papel de alguém que está no comando, como uma heroína de ação, uma mulher poderosa”, contou Moretz recentemente. 
Um mês depois, seu desejo foi atendido: a garota recebeu a proposta para participar do filme de aventura “Quebrando tudo” (“Kick-Ass”, no original), no papel de Hit Girl, uma misteriosa justiceira que deixa um rastro de balas e pedaços de corpos por onde quer que passe. “Minha mãe me disse: ‘era exatamente o que você queria fazer’”, lembra Moretz, que tinha 11 anos de idade na época (hoje tem 13).
Com estreia marcada para sexta-feira nos EUA, o filme dirigido por Matthew Vaughn é uma sátira violenta e cheia de palavrões sobre heróis que usam armas tradicionais para compensar a falta de poderes sobre-humanos. Enquanto o desajeitado personagem de Aaron Johnson tenta aprender os procedimentos heróicos, é Moretz – a bordo de uma peruca roxa e saia xadrez da mesma cor, manejando um punhal de dois gumes – quem geralmente solta as palavras mais obscenas e comete os atos de brutalidade mais abomináveis do filme.
Para aqueles que não estão muito familiarizados com a série de quadrinhos “Kick-Ass” (escrita por Mark Millar, também autor da versão em quadrinhos de “Wanted”), Hit Girl vem sendo a mais eficiente embaixatriz do filme: a internet foi à loucura no último inverno do hemisfério norte com o trailer R-rated (restrito a menores de 17 anos acompanhados dos pais), no qual Moretz pronuncia, com todas as letras, um palavrão que definitivamente não deve ser falado por garotinhas – e faz isso antes de abrir caminho e adentrar uma sala cheia de traficantes de drogas.
Moretz e seu personagem levantam uma questão recorrente sobre quais limites deveriam ser colocados a jovens atores participando de histórias adultas, e até que ponto tais atores compreendem seus papéis. Para alguns críticos, a atuação de Moretz está despertando o mesmo desconforto que sentiram quando Natalie Portman, aos 13 anos, exibiu seus pertences para o implacável assassino de aluguel, interpretado por Jean Reno em “O Profissional”.
Vaughn, que também dirigiu “Nem Tudo é o que Parece” e “Stardust: O Mistério da Estrela Cadente”, e escreveu o roteiro de “Quebrando Tudo” juntamente com Jane Goldman, descreveu Hit Girl como a metade da “mais atual relação pai e filha, na qual bonecas Barbies são substituídas por facas e unicórnios se transformam em granadas de mão”.
Criada por seu pai (interpretado por Nicolas Cage) para ser uma “assassina treinada, que passou por uma lavagem cerebral, Hit Girl não é normal e, por isso, as regras que se aplicam a outras pessoas não se aplicam a ela”, diz Vaughn.
Quando buscaram uma atriz jovem que pudesse tanto ser doce quanto durona, não é difícil entender por que os produtores escolherem Moretz para o filme. Relaxada na suíte de um hotel boutique em Manhattan, acompanhada por seu irmão Trevor (23) em recente visita a Nova York, a atriz não demonstrava qualquer dificuldade em agir de acordo com sua idade: ela brincava com uma garrafa de água mineral de grife ou cantava espontaneamente o refrão de “Dance in the Dark”, de Lady Gaga (“esta é a Chloe depois de escuro”, ela explicou).
Mas, ao discutir sua carreira, ela incorpora a sofisticação de uma atriz com o dobro de sua idade. Disse que cada filme do qual participa “coloca mais um tijolo no muro de sua atuação”, e “quanto mais tijolos eu tiver, melhor será minha atuação".
Assista ao trailer do filme:



Kick-Ass trailer from Punchline Magazine on Vimeo.
Ela construiu esse muro rapidamente em filmes como “500 Dias com Ela”, no qual faz o papel da jovem irmã precoce de Joseph Gordon-Levitt, e no remake de 2005 de “Horror em Amityville”. Tem apenas vagas lembranças de papéis anteriores, conseguidos quando ela se mudou com os pais e os quatro irmãos para Los Angeles por causa da profissão de seu pai, cirurgião plástico. “Eu era muito pequena, só tinha seis anos”, diz.


Trevor Moretz, seu irmão e instrutor de atuação, e sua mãe, Teri, leem todos os roteiros que ela recebe de seus agentes, na tentativa de equilibrar sua porção adulta com filmes voltados para a família (como o recente sucesso “Diary of a Wimpy Kid”). Quando “Kick-Ass” chegou, a família Moretz percebeu que o filme seria uma vitrine para a árdua dedicação e habilidades atléticas de Chloe. Eles também reconheceram os aspectos mais grosseiros do filme, mas acreditaram que ela estava pronta para o desafio. Teri Moretz escreveu em uma mensagem de e-mail sobre sua filha: “sendo a mais nova de cinco filhos, ela tem uma visão muita ampla e equilibrada do mundo”. E completou: “O filme realmente ultrapassa limites, mas Chloe sabe que as coisas que Hit Girl faz e diz são ficcionais”.


Para Chloe, Hit Girl foi uma oportunidade de acompanhar o ritmo de seus ídolos do cinema, fazendo algo que “nenhuma outra garota tinha feito, exceto Natalie Portman em 'Leon'”, diz ela, usando o título europeu para “O Profissional”. Não que Moretz conheça o filme de Luc Besson de primeira mão. “Eu nunca nem vi o filme”, confessa desanimadamente. “Eu não tenho autorização”.
Tampouco ela viu muitas das atuações consideradas antecedentes a Hit Girl por seu irmão, como Angelina Jolie em “O Procurado” e Jodie Foster em “Taxi Driver”. Mas recebeu uma autorização especial para assistir a Uma Thurman no filme “Kill Bill”. “É hilário. Não tem nada a ver com sair matando as pessoas com sangue de verdade, é tudo falso”, diz Moretz.
Antes do início das filmagens de “Quebrando tudo”, Moretz passou várias semanas em Los Angeles, Londres e Toronto treinando ginástica olímpica, condicionamento físico e segurança no manuseio de armas. (“Sempre inspecione uma arma que foi entregue a você. Certifique-se de que a bala é falsa”, brinca).
Durante os seis meses de filmagem, sua mãe, seu irmão e seu diretor por inúmeras vezes lhe disseram que era Hit Girl, e não Chloe, quem xingava e atirava nos vilões. Ela parece ter aprendido a lição. “Cada vez que o final de uma cena é anunciado, deixo tudo para trás”, disse ela. “Você precisava me ver depois de uma cena de choro”.
Os colegas de atuação de Moretz a elogiaram por sua maturidade nas filmagens. Nicolas Cage, que começou a atuar na adolescência, diz valorizar os perigos enfrentados por astros infantis “quando nem todas as ideias já estão completamente formadas e você pode se envolver em muitos problemas”. Ele completa: “Você pode fazer coisas que te tiram do caminho”.
Cage diz que Moretz “não está nessa pelas mesmas razões que muitas pessoas se envolvem no cinema, a síndrome do olhe-para-mim. Ela está interessada em construir personagens”.
Os produtores, porém, estão mais preocupados com a forma como o filme e a atriz serão recebidos. Na Inglaterra, onde o longa foi lançado no final de março, David Cox, do jornal The Guardian, atacou a equipe de criação e a mãe de Moretz por permitir que as palavras obscenas faladas por Chloe se tornassem “linguagem aceitável para crianças em filmes comerciais”.
Vaughn considerou hipocrisia tal tipo de condenação, que recrimina a linguagem do filme e ao mesmo tempo perdoa sua violência. Ele disse: “Eu fiquei me perguntando se não incomodava o fato de ela ter matado umas 43 pessoas no filme. Você preferiria que sua filha falasse palavrões ou se tornasse uma assassina justiceira mascarada? ‘Sei lá’, eles responderiam”. 
Teri respondeu por e-mail que as críticas não a atingiram. “Sabemos quem somos e no que acreditamos, então não damos ouvidos às opiniões dos outros”, escreveu. A agitação em torno do filme praticamente não abalou a carreira de Moretz. Ela vai ser vista no papel de uma garota vampira em “Let Me In”, remake americano do filme de horror sueco “Let the Right One In”, e também foi escalada para adaptação para o cinema do livro infantil “The Invention of Hugo Cabret”, romance de Brian Selznick sobre um órfão parisiense e seu robô, filme que Martin Scorsese pretende dirigir.
Até sua irmã atingir idade suficiente para escolher seus próprios projetos, Trevor Moretz disse que é responsabilidade sua e de sua mãe “zelar por ela na indústria do cinema, certificando-se de que não haja manipulação ou exploração”. Mas ele acredita que “ela é uma garota muito esperta”.
Moretz dispara de volta: “Mulher!”.
E ele cede: “Ela é uma adolescente muito esperta”.
Embora planeje continuar atuando, Moretz disse que talvez queira pilotar um helicóptero ou saltar de paraquedas para lidar com seu medo de voar. (“Quando você tiver idade, corra atrás disso”, aconselhou Trevor.)
Quando perguntada se havia algo que quisesse fazer na tela que sua família ainda não permitia, Moretz respondeu: “Quero usar salto alto, se isso conta. Tudo o que eu quero é um par de Christian Louboutins e uma arma”. 




Fonte: www.ig.com.br