terça-feira, março 29, 2005

Passeio aos anos 80

Zuenir Ventura


29.03.2005 De repente, a garota cheia de graça e picardia me perguntou: “Como é que você resumiria o que os anos 80 tiveram de melhor?”. Foi durante um agradável almoço que mais parecia um congresso de jornalistas. Estavam lá (vou citar à maneira das crônicas sociais antigas; quem quiser saber a identidade que vá até o fim do artigo e vire o computador ao contrário): PC, TV, AR, MG, D e M, M e F, MF e RC. JFS não foi porque, segundo um dos presentes, acompanhava a dublagem de sua voz para o programa de Marília Gabriela.A garota queria dar de presente a uma amiga que mora no estrangeiro o best-seller “Almanaque anos 80”, de Luiz André Alzer & Mariana Claudino, e estava fazendo um teste de brincadeirinha, até porque já sabia o que me perguntou. Como a amiga a quem ia presentear, ela era um bem acabado exemplar desse período que foi chamado por quem só pensa em economia de “década perdida”. Já eu, que não sou dos que acham que o mundo deixou de produzir gente interessante depois dos anos 60, prestei muita atenção no pequeno debate que se iniciou sobre essa geração que tem hoje entre 25 e 35/40 anos.Confesso que ficara mal impressionado ao ver dias antes na televisão uma reportagem sobre um baile no qual se festejavam esses anos que estão na moda. As pessoas falavam maravilhas da época, mas exaltavam tanto o chiclete Bubbaloo que saí com a sensação de que a melhor coisa daqueles tempos era ficar bovinamente mascando um pedaço de borracha mole – e eu mesmo posso atestar que não era. Havia o que fazer de melhor, inclusive com a boca.Outras décadas se faziam representar na mesa e a discussão ficou acalorada e inteligente. Pena que não estivesse lá o autor de “Feliz 1958 – o ano que não devia terminar”. Nós dois poderíamos formar um contrapeso contra esses invasivos 80, já que escrevi sobre os 60 – primeiro dizendo que era a “década que mudou tudo” e, depois, que eles não tinham terminado. Alguém (teria sido eu, por inveja?) fez carga contra eles, acusando-os de pouca criatividade. “Ao contrário dos 60, que inventaram um novo mundo, os 80 só diluíram o que foi inventado antes.”Na verdade, não tenho nada contra a década – pelo menos até a metade. Ela acabou com o sufoco, promoveu a abertura política, foi de desrepressão e de muitas experimentações comportamentais. Não estou definitivamente entre “os mal-humorados que consideram a década perdida”, como dizem os autores na apresentação. Mas, numa nice, ela não é apenas isso.Além de ter como um de seus símbolos Odete Roitman (que aparece no capítulo Televisão), vilã da novela “Vale tudo”, de Gilberto Braga, essa década, aliás muito cínica, assistiu a partir de 85 ao advento da Aids, para não falar de outros flagelos menores como a eleição de Fernando Collor.Mas a intenção do livro, que não por acaso se chama almanaque, não era mesmo entrar por esses caminhos; a viagem é outra. E esta, diferente de uma década que não foi o tempo todo divertida, é sempre agradável e divertidíssima – com a vantagem de que o projeto gráfico de Marcelo Martinez, tão importante quanto o conteúdo, devolve todo o clima visual da época. Taí uma idéia esperta, maneira, de arrasar, como se dizia então.
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Agora, vire o computador e leia: Aluap Onirasec, Yttut Seuqsav, Ailiram Aleirbag, Oderfla Oriebir, Aicram e Oibaf, Esined e Oruam, Airam Rolf e Odracir, Miuqaoj F. sod Sotnas

Um comentário:

Teodoro disse...

Raul em uma musica diz: Êee anos 80, charrete que perdeu o condutor!
É... as vezes desgovernado é melhor do que mal governado. Isto se refere nao só a politica, mas a cultura tambem.